1.10.12

Etapas da vida


Interessante e curioso, as etapas vividas pelos humanos. Uma manhã ensolarada, em que passava em frente a uma creche, observei vários bebês em seus carrinhos tomando sol, quase de uma maneira comportada como se entendessem a necessidade de ali estarem, de  modo obediente. As pessoas encarregadas de cuidá-los estavam atentas para qualquer mudança de atitudes, nada imprevisível.

Continuei meu roteiro e adentrando em outra rua, deparo-me com outro cenário, quase semelhante ao anterior. Vejo várias pessoas alinhadas, disciplinadamente, em suas cadeiras, algumas de roda, tomando sol sob o olhar das cuidadoras.

Deixo que meu pensamento tome conta da realidade observada e começo a refletir sobre as etapas da vida. Então é isso? A pessoa começa e termina, sob cuidados, sentada em carrinhos e cadeiras, sob a vigília de terceiros?! A vida da urgência, do custo, do trabalho impede que as famílias cuidem dos seus bebês e dos seus idosos?! Quando esse cuidado é apenas por momentos do dia, ainda é razoável, pois há a expectativa do encontro afetivo no retorno para casa. Mas se esse afastamento familiar for permanente, como no caso dos velhos?!  Parecem pessoas ali depositadas por não terem mais lugar na família. Efetivamente, aparece a sensação de abandono, que não é maior, porque há pessoas pagas, com especialistas de todo tipo, para exercerem a tarefa de cuidá-las.

Fico a pensar no que foi a vida desses idosos, dos filhos que criou, dos netos que cuidou, das noites não dormidas, dos trabalhos exercidos para chegarem nessa etapa de suas vidas sem lugar, sem o afeto dos que lhes são próximos, sem vinculações com a história que viveram.

Retorno a perspectiva da minha imaginação para as crianças da creche. Qual será o futuro delas? Crescerão, tomarão conta de suas vidas, terão filhos e netos e depois serão conduzidas a um lugar de cuidadoras, tomando sol novamente, não mais nos seus carrinhos, mas, agora, em outras cadeiras, de roda ou não, quem sabe?!

Nada há de inacreditável nisso. O que me produz impacto é o fato da fragilidade do vínculo familiar. As conquistas da modernidade, que são conquistas do capitalismo e da tecnologia, produziram várias facilitações para a vida cotidiana e isso é ótimo. O que analiso é que tudo isso não substitui o abraço, o carinho familiar, o olhar de atenção, o tempo da escuta, da fala, daquilo que não foi dito. E, isso, tecnologia nenhuma substitui. A criança, ao retornar para casa, quer e precisa do carinho de seus pais. O idoso, depois de toda uma vida de trabalho e sacrifícios, espera o reconhecimento dos seus familiares. Não é a quantidade de tempo que importa, mas a qualidade desse tempo de convivência, que produz significações.

Talvez tenhamos que revisar as posturas e os valores face a essas relações, que não podem ser apenas utilitárias. As pessoas não devem ser colocadas como objetos imóveis para não perturbarem o sossego familiar.

Gente dá trabalho, preocupação, traz problemas, mas não é por isso que deva ser retirada do circuito da família, depois de ter prestado grandes contribuições. Todos nós passamos e passaremos por essas etapas da vida. Como gostaríamos de receber cuidados? Junto dos nossos, com quem convivemos a vida toda, ou à distância, entregue a profissionais estranhos?

À medida que vencemos etapas nos aproximamos de outros momentos de nossas vidas. Vale a pena pensar sobre nossos laços de afeto, laços que o tempo não deveria romper.