30.11.14

É Dezembro

É dezembro, um mês mágico pelas cores, sons, sonhos e expectativas de encontros. A natureza está bela com os pássaros cantando, as borboletas acariciando as flores e as árvores verdejantes e floridas. Tudo é pródigo em encantamento, na Terra que nos abriga e da qual cuidamos tão pouco!
Essa harmonia estética que presenciamos ao olhar ao nosso redor nos dá a sensação de estarmos em “bodas com o mundo”, na expressão magnífica de Albert Camus. Como se ouvíssemos os interlúdios mais melodiosos a embalarem nossos dias. É a dimensão efusiva da alegria!
No entanto, sabemos que essa harmonia da natureza é interrompida pela ação dos humanos que não desejam estabelecer laços sociais e só produzem hiatos entre a convivência de todos. Paramos, um pouco, no final do ano sem a intenção de fazermos o balanço tradicional dos propósitos cumpridos ou não. Paramos um pouco para pensar nas razões das ações humanas. Porque ainda que nos deixemos tocar por todo esse conjunto belo da natureza, que nos presenteia, em momento algum podemos esquecer os cataclismas ou tsunamis que assolaram nossa sociedade civil.
Como não pensar que a soma dos bilhões retirados de uma empresa pública, que presta serviços ao progresso da Nação, tem um custo além do monetário, tem um custo moral?! Sim esta é a nossa perplexidade. Por anos a fio, um grupo de pessoas seletas, inteligentes, com conhecimento do que fazem, decidiram usurpar os cofres do Tesouro Nacional em benefício próprio e de suas empresas. E ainda com o agravante: procuram justificar o que fizeram, trocando acusações, com a intenção de deixarem sua culpa menor e se apresentarem como enganados, extorquidos, iludidos ou, no mínimo, desenhando um perfil com traços de seriedade!?
Não nos inclinamos para nenhum viés maniqueísta, em que os bons estão do nosso lado e os maus são os adversários. Longe de nós pensarmos que alguns são filhos de Caim e outros oriundos de Abel. Não nos toca esses sentimentos discricionários. Todos somos plausíveis de erros e acertos nas nossas contingências. No entanto, o que nos causa indignação  é que nenhum desses senhores que se apropriaram do bem público estava em estado de necessidade. Nenhum! O que lhes move é o desejo exacerbado do lucro fácil, do acúmulo ilícito da riqueza, sem nenhuma preocupação com o resultado das suas ações.
Como não nos sensibilizarmos pelas dezenas de famílias que são atingidas por essas ações? Que dizer aos operários que perderão seus empregos, como resultado da ruptura de contratos entre as empresas e a Petrobrás? Em algum momento, no interior das celas privilegiadas onde estão presos aqueles que optaram por trair e não participar da Ceia comum, lhes domina algum sentimento mínimo de arrependimento e desejo de consertar o mal feito com o dinheiro público?!
Não cabe nos limites desta crônica analisar o que a humanidade fez para si mesmo, quando se organizou em torno do dinheiro e decidiu viver apenas em busca dele. Isso incorre em análise de valores, de projetos pessoais, de consciência moral e, sobretudo, de escolhas de vida.
Mas, a nossa intenção, ao registramos a beleza de um Dezembro que chega com sinais de festa e alegria, é sabermos que as intervenções que os humanos fazem no mundo nem sempre são benvindas e produzem névoas nas nossas comemorações. São as ambivalências que vivemos. Na maioria das vezes, as atitudes são predatórias e nefastas. Temos aí o risco do aquecimento global a ameaçar nosso bem-estar por atos que destruíram e destroem o meio ambiente. Continuamos a poluir os rios, a desmatar as florestas, a agredir os demais seres vivos em nome de um certo poder da nossa racionalidade (?!)
Em todo caso aqui chegamos ainda vivos e com promessas de continuidade da vida. Que possamos diminuir mais nosso ímpeto destruidor seja naquilo que atinge a vida em sociedade, seja naquilo que toca a vida no planeta.
Nossa possibilidade de pensar e criar quase não tem limites. Que façamos dessa característica uma forma de produzir e manter a harmonia das flores e dos pássaros, que sobrevivem respirando o que lhes toca por direito sem se apossarem do que não lhes pertence.
Que nosso abraço com o mundo e a natureza tenha a transparência da acolhida e do encontro, sem se deixar contaminar pelo engodo e pela malícia de querer mais, sempre mais.