É dezembro,
um mês mágico pelas cores, sons, sonhos e expectativas de encontros. A natureza
está bela com os pássaros cantando, as borboletas acariciando as flores e as
árvores verdejantes e floridas. Tudo é pródigo em encantamento, na Terra que
nos abriga e da qual cuidamos tão pouco!
Essa
harmonia estética que presenciamos ao olhar ao nosso redor nos dá a sensação de
estarmos em “bodas com o mundo”, na expressão magnífica de Albert Camus. Como
se ouvíssemos os interlúdios mais melodiosos a embalarem nossos dias. É a dimensão
efusiva da alegria!
No entanto, sabemos que essa harmonia da
natureza é interrompida pela ação dos humanos que não desejam estabelecer laços
sociais e só produzem hiatos entre a convivência de todos. Paramos,
um pouco, no final do ano sem a intenção de fazermos o balanço tradicional dos
propósitos cumpridos ou não. Paramos um pouco para pensar nas razões das ações
humanas. Porque ainda que nos deixemos tocar por todo esse conjunto belo da natureza,
que nos presenteia, em momento algum podemos esquecer os cataclismas ou tsunamis
que assolaram nossa sociedade civil.
Como
não pensar que a soma dos bilhões retirados de uma empresa pública, que presta
serviços ao progresso da Nação, tem um custo além do monetário, tem um custo
moral?! Sim esta é a nossa perplexidade. Por anos a fio, um grupo de pessoas
seletas, inteligentes, com conhecimento do que fazem, decidiram usurpar os
cofres do Tesouro Nacional em benefício próprio e de suas empresas. E ainda com
o agravante: procuram justificar o que fizeram, trocando acusações, com a
intenção de deixarem sua culpa menor e se apresentarem como enganados, extorquidos,
iludidos ou, no mínimo, desenhando um perfil com traços de seriedade!?
Não nos inclinamos para nenhum viés
maniqueísta, em que os bons estão do nosso lado e os maus são os adversários.
Longe de nós pensarmos que
alguns são filhos de Caim e outros oriundos de Abel. Não nos toca esses
sentimentos discricionários. Todos somos plausíveis de erros e acertos nas
nossas contingências. No entanto, o que nos causa indignação é que nenhum desses senhores que se
apropriaram do bem público estava em estado de necessidade. Nenhum! O que lhes
move é o desejo exacerbado do lucro fácil, do acúmulo ilícito da riqueza, sem
nenhuma preocupação com o resultado das suas ações.
Como
não nos sensibilizarmos pelas dezenas de famílias que são atingidas por essas
ações? Que dizer aos operários que perderão seus empregos, como resultado da
ruptura de contratos entre as empresas e a Petrobrás? Em algum momento, no
interior das celas privilegiadas onde estão presos aqueles que optaram por
trair e não participar da Ceia comum, lhes domina algum sentimento mínimo de arrependimento
e desejo de consertar o mal feito com o dinheiro público?!
Não
cabe nos limites desta crônica analisar o que a humanidade fez para si mesmo,
quando se organizou em torno do dinheiro e decidiu viver apenas em busca dele.
Isso incorre em análise de valores, de projetos pessoais, de consciência moral
e, sobretudo, de escolhas de vida.
Mas,
a nossa intenção, ao registramos a beleza de um Dezembro que chega com sinais
de festa e alegria, é sabermos que as intervenções que os humanos fazem no
mundo nem sempre são benvindas e produzem névoas nas nossas comemorações. São
as ambivalências que vivemos. Na maioria das vezes, as atitudes são predatórias
e nefastas. Temos aí o risco do aquecimento global a ameaçar nosso bem-estar
por atos que destruíram e destroem o meio ambiente. Continuamos a poluir os
rios, a desmatar as florestas, a agredir os demais seres vivos em nome de um
certo poder da nossa racionalidade (?!)
Em
todo caso aqui chegamos ainda vivos e com promessas de continuidade da vida.
Que possamos diminuir mais nosso ímpeto destruidor seja naquilo que atinge a vida
em sociedade, seja naquilo que toca a vida no planeta.
Nossa
possibilidade de pensar e criar quase não tem limites. Que façamos dessa
característica uma forma de produzir e manter a harmonia das flores e dos
pássaros, que sobrevivem respirando o que lhes toca por direito sem se
apossarem do que não lhes pertence.
Que nosso abraço com
o mundo e a natureza tenha a transparência da acolhida e do encontro, sem se
deixar contaminar pelo engodo e pela malícia de querer mais, sempre mais.