Não
se preocupem não irei descrever, novamente, a narrativa que todos já sabem, ouviram
e leram de fontes mais sábias. Não me atrevo a repetir articulistas e
romancistas famosos ou midiáticos, que têm acolhida nas grandes redes de
jornais e televisão.
Minha
intenção é bem mais modesta. Desejo apenas, utilizando a metáfora do auto de
Natal, esboçar um enredo diferente das críticas costumeiras e dos exemplos
repetitivos. Quero dirigir o pensamento ao imaginário de cada um e mostrar a
originalidade sempre renovada que é o nascimento. Sem estranhezas ou acusações,
pois todos já sabemos que elas nos atingem diariamente, via notícias e
espetáculos.
Quero
partilhar uma visão digna da simplicidade da manjedoura, abrigo de um menino
que fugia da tirania dos reis, mas que não fez de sua pobreza apanágio para se
tornar vítima de nada. Ao contrário, o incentivo era para a nobreza de caráter
e o desprendimento de riquezas que escravizassem.
Neste
auto de Natal, que não quer reproduzir a vida e a morte de um líder, o
interesse é registrar os seus próprios registros. A hipocrisia era algo que
abominava o jovem, nascido próximo aos pastores e suas ovelhas. Chamava os
hipócritas de sepulcros caiados, belos por fora e apodrecidos por dentro.
Contemplamos
essa hipocrisia ao vermos artigos e comentários sobre e contra a fúria
capitalista, sendo que no cotidiano essas mesmas pessoas não têm uma atitude
diferente dos que criticam. Usam de artifícios para conseguirem seus intentos,
sabem seduzir para se colocarem melhor no mercado e, especialmente, consomem e
se deixam consumir como qualquer mercadoria. Então criticam os que comemoram o
Natal como um gesto histérico, sendo que a histeria integra sua própria vida,
que faz parte do espetáculo do consumo e está posta a venda. Só chegarem ao
preço e fazerem a oferta. Vendido será o próximo indicador em seu peito.
Escribas
e fariseus eram apontados como atores da hipocrisia social. Temos hoje esses
atores com novas roupagens participando de uma festa da qual não têm convicção,
mas que precisam estar para serem vistos. O palco continua armado para eles
entrarem em cena e se posicionarem para mais um espetáculo.
Feliz
e livre é o sujeito que se pauta por seus princípios, ainda que desagrade os demais.
O nascimento que se comemora é o de um sujeito orientado por princípios, cuja
história enalteceu os seus seguidores e impressionou os seus detratores. Temos
até a metáfora do covarde, que não quis ser responsável por seus atos e “lavou
as mãos”. Esse é um gesto que se repete, quando as pessoas desistem da
coerência e lavam as mãos para não assumirem o que fizeram.
O
auto de Natal, que entendo poder ser escrito e descrito, é uma forma de
restaurar a beleza da simplicidade, a delicadeza das trocas, a grandeza da
generosidade e a coragem das convicções. Não repetimos as comemorações de Natal
pelo simples costume, realizamos a festa pelo Nascimento de uma Vida a ser
celebrada, como a vida de todo ser humano que nasce e deve ser acolhido.
Importa
pouco se há ou não um “espírito natalino”. Penso que pode haver um gesto de
mãos estendidas, num esforço de reconhecimento dos humanos entre si. Este foi o
testemunho que o Homem de Nazaré quis deixar ao mundo. A figura carismática do
Cristo desejou a Vida em abundância para todos.
Por
esse auto de Natal, sem a pretensão de ser roteirista, reitero o apreço que
tenho pela confraternização alegre, singela e, sobretudo, humana. Quero aproveitar
o momento dessa escrita para cumprimentar a todas e todos, com um abraço
fraterno, desejando esperança e coragem para receber o Novo que chega.
Feliz
Natal!