Passada
a perplexidade inicial, cujos comentários televisivos, jornalísticos e de
especialistas nos assombram com análises, dados, fatos, contextualizações de um
mundo em guerra, o que nos sobra?
Ouvimos
sobre aliados, alianças, confrontos, estratégias, número de mortos e feridos,
indignações por parte dos dirigentes dos países envolvidos ou solidários com as
vítimas do terror, mas nada ouvimos sobre as causas remotas e históricas que
motivaram tais crimes.
Temos
em nossa memória várias notícias sobre países que bombardeiam os outros,
julgados inimigos ou até mesmo adversários, que invadem as nações entre Oriente
e Ocidente numa azáfama cotidiana e assassina e tudo isso fica como um registro
factual, mas não como algo para ser avaliado do ponto de vista dos valores ou
não-valores que conduzem a humanidade. Que dizer? Que pensar?
Sabemos
de tanto ouvir os nomes dos principais chefes de Estado mundiais, suas
intenções e interesses, suas estratégias de poder econômico e de domínio
político, mas não ouvimos deles nenhuma intenção de repensar suas políticas e
mudar suas atitudes. Em todas as latitudes o que aparece é o número de vitórias
ou derrotas ou a indicação de exércitos e de vítimas, nada que acrescente ao
desejo possível de uma vida boa e justa para os cidadãos.
Confrontam-se
as nações ao Oriente e Ocidente e mostram-nos uma estatística perversa de
mortos, prisioneiros e terroristas em que se conclama o poder do mais forte com
fundamento no ódio, na crença, no poderio bélico. Estamos sendo desafiados a entender
esse momento do mundo em que a humanidade atenta contra si mesma, na forma de
extermínio. Temos povos cuja experiência única de vida é a guerra, em que suas
crianças e jovens não tiveram passado, não conseguem viver o presente e já tem
seu futuro ameaçado.
Até
quando ficaremos atemorizados diante desse cenário que nos afeta a todos, que
temos a vida como um valor fundamental, que não pode ser aniquilada nem em nome
de religiões, nem em nome de ideologias?! O que veremos ainda nessa
teatralidade criminosa, onde o ódio, a vingança, o preconceito e a desigualdade
se tornaram protagonistas?!
De
que adianta nos consolarmos sobre a perda dos que morreram se não há intenções
efetivas de combater esses protagonistas do mal?! A flor ou a vela que
colocarmos na sepultura de mais uma vítima do terror não nos tornará melhores
se não lutarmos por uma consciência pública de responsabilidade civil, de modo
a atingirmos as instâncias governamentais dos povos e países para que se possa
pensar na paz mundial.
Depois de tudo isso, fiquemos
com Shakespeare, o resto é silêncio.