14.4.17

OS CRUCIFICADOS


Em tempos de memória de sacrifícios, ao verificarmos nos registros da história que o povo decidiu libertar o ladrão e crucificar o Justo, pensamos nas várias formas vividas, hoje, pelos crucificados.
Quando criança, ao ser levada às celebrações da Semana Santa me impressionava muito o silêncio das famílias e da Igreja, o jejum e a figura do Cristo morto, coberto de chagas. Em meu imaginário infantil surgiam simples indagações: – como alguém pode machucar tanto outra pessoa, a ponto de levar à morte!? Evidente que, ao longo da minha vida, essa indagação de criança sofreu diferentes alterações, buscou inúmeras respostas lógicas ou nem tanto, e ainda hoje continua, na complexidade do que se vive agora, exigindo explicações. Onde encontrar algo que justifique, tanta desonra, tanto privilégio, tanta desigualdade, tanta mentira e sobretudo tanto escárnio sobre o querer humano de Justiça?
Penso em como caracterizar os crucificados de hoje, levados dia a dia ao cadafalso, carregando a própria cruz ao cimo do monte, sentindo no peito o toque da lança que abre a chaga definitiva e termina com suas vidas. E nem sequer são dignos de participar da Ceia, são vetados por meio de políticas públicas discricionárias, que acumulam desigualdades e impedem o avanço das pequenas conquistas.
Em mais esta Passagem, vemos o sinistro espetáculo de bombas destruindo a vida de inocentes, ouvimos listas e mais listas de mercadores da dignidade na vida política, assistimos a ruptura do elo social aqui e nos demais lugares. Que fazer? Que pensar? Que esperar? Que venha alguém com força e dignidade e expulse os vendilhões do Templo, como fez Cristo em Jerusalém? Neste agora de cruzes e sacrifícios, até quando iremos chorar no Monte das Oliveiras, até sermos entregues com um beijo de Judas aos soldados do Poder?
O desejo, a necessidade, o impulso é de resgate desses crucificados cotidianos que não têm seus salários pagos, seus direitos respeitados, seus lugares preservados. Este não é um sonho quixotesco, é tão somente a inquietude humana que leva a ouvir o clamor dos que diariamente vivem o Calvário de carregar a cruz, crucificados entre os ladrões.
Em todo esse cenário de Via-Sacra, não podemos deixar de esperar uma Páscoa de Esperança e de Paz, na expectativa de novas forças e novos protagonismos, construindo uma Ressurreição que nos leve a querer um País Novo, um Mundo Novo, uma Terra Nova.